Data Publicação: 27/03/2025
Redação: SARAH MARMO AZZARI
Iniciativa faz parte do projeto integrado ResiliSUS, da Fiocruz em parceria com o Departamento de Saúde Pública do Imperial College, de Londres.
Idealizado pelo Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz, o ResiliSUS é um projeto de pesquisa que integra tecnologia e informação para tornar os sistemas de saúde mais resilientes. O objetivo é que os serviços estejam preparados para situações extremas, a exemplo da pandemia de Coronavírus vivenciada em 2019 e que impactou significativamente a sociedade em diversos segmentos - especialmente a saúde.
E o modelo de promoção da saúde da Estratégia Saúde da Família, implementado no Brasil, gerou interesse por parte do Departamento de Saúde Pública do Imperial College, de Londres. Os pesquisadores da instituição têm realizado visitas a unidades do SUS para entender como funciona, na prática, a ESF.
A atuação dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS), em particular, foi um dos processos que chamou a atenção dos londrinos, por se tratar de um papel essencial para a eficácia da Estratégia. Isso porque é este profissional que, literalmente, entra na casa dos pacientes para conhecer a realidade local e individual e, com isso, alimentar a equipe multidisciplinar com informações e dados que auxiliarão em tomadas de decisões assertivas para a saúde da população.
"Desde 2017, bem antes da pandemia de Covid-19, o foco das nossas pesquisas já estava no entendimento da resiliência como atributo a ser desenvolvido e fortalecido no SUS", observa o coordenador do ResiliSUS, Alessandro Jatobá. Conforme relata, a parceria com o Imperial College teve início quando colegas da instituição britânica, liderados pelo professor Matthew Harris, começaram a desenvolver programas de Agentes Comunitários de Saúde (ACS), na região de Westminster, e constataram que a presença desses profissionais em regiões vulneráveis poderia fortalecer a resiliência do National Health Service (NHS), o sistema de saúde do país. "E foi assim que eles entraram em contato com o ResiliSUS em busca de metodologias que permitissem a análise do potencial para a resiliência promovido por programas dessa natureza", diz Jatobá.
Intercâmbio carioca
Além de realizar visitas a unidades de saúde no Brasil, especificamente no Rio de Janeiro, para entender como se dá, na prática, o trabalho da Estratégia, o Imperial College fez questão de "importar" um ACS para Londres. O intuito é que este profissional participe do seminário "Aprendizado compartilhado em torno da função de Agente Comunitário de Saúde melhorando a resiliência dos sistemas de saúde do Brasil e Reino Unido", que ocorrerá em abril de 2025.
Após uma acirrada seleção com 30 pessoas, tendo como critérios a excelência no trabalho e a fluência no idioma inglês, o ACS Bernardo Xavier, que atua há 4 anos na Clínica da Família Bárbara Mosley de Souza, foi o escolhido para representar o Brasil no evento. Durante o encontro, o profissional falará sobre a Atenção Primária, o dia a dia e o papel do Agente Comunitário de Saúde.
"Eu estava apreensivo, porque quando saí da entrevista eu fiquei pensando que aquilo era uma possibilidade real de acontecer. Quando a Renata, minha gestora, me ligou e me contou, a primeira coisa que eu fiz foi tremer, me emocionei, gritei, e contei pra minha mãe", conta Bernardo.
O Agente ficará dez dias em Londres, com tudo pago pelo Departamento de Saúde Pública do Imperial College.
"Estou extremamente emocionada com esta conquista, toda nossa unidade está orgulhosa, nossa Clínica entrou na disputa com 30% de chances, pois havia três excelentes candidatos [finalistas]. Quando soube que o Bê tinha sido escolhido para representar o SUS e a Atenção Primária Carioca em Londres, fiquei muito emocionada, a história de vida deste rapaz é incrível", comenta Renata Almeida, gerente da CF Bárbara Mosley de Souza.
Bernardo tem 31 anos e atua há 4 como Agente de Saúde. Foi nascido e criado no Rio de Janeiro, e é filho da Maria Auxiliadora da Cunha, que foi Agente de Saúde por 12 anos na mesma unidade de saúde em que hoje o filho atua.
"Me sinto muito realizado, porque depois que entendi o que é, e como funciona o trabalho do Agente Comunitário de Saúde e o trabalho da APS, estou sempre tentando entregar um serviço de saúde mais acolhedor e humanizado. Estou muito feliz por ter recebido essa oportunidade, com certeza nossos amigos ingleses vão se inspirar mais e construir um sistema justo e igualitário para os usuários de lá", acredita Bernardo.
A CF Bárbara Mosley de Souza é uma unidade da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, gerenciada em parceria com Associação Paulista para oDesenvolvimento da Medicina (SPDM) - uma das maiores Organizações Sociais de Saúde do Brasil - por meio do Programa de Atenção Integral à Saúde (PAIS), que realiza atualmente a gestão de 361 unidades de saúde, estando presente nos municípios de São Paulo (SP), Santo André (SP), Diadema (SP), Santos (SP), Praia Grande (SP), Rio de Janeiro (RJ), Fortaleza (CE) e Porto Alegre (RS).
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